segunda-feira, 27 de agosto de 2012

As Fundações ou tudo-no-mesmo-saco

O conceito de «Fundação» mudou muito e banalizou-se. Há umas dezenas de anos, quando se falava em Fundação a ideia que ocorria, segundo o modelo mais famoso em Portugal da Fundação Gulbenkian, era a generosidade de alguém ou alguma família muito rica que para brilho do seu nome patrocinava ou artes ou ciências ou diversos sectores da sociedade. Eram conhecidas muito poucas e referidas de um modo geral com respeito. Da Gulbenkian dizia-se que era o nosso segundo (ou talvez primeiro) Ministério da Cultura.
De há uns tempos para cá, isso mudou. Ao princípio passou-me desapercebido, e até fiquei chocada quando uma amiga professora me disse que a sua Universidade tinha passado a Fundação. Tinha vantagens etc e tal. Que estranho. Depois acordei e reparei que de facto havia «Fundações» e «Fundaçõezinhas» por todo o lado. O modelo não tinha já nada a ver com a minha ideia primitiva, era um modo de fazer beneficiar um negócio porque estas novas fundações eram patrocinadas por dinheiros públicos.
Ora, nos últimos dias o mundo cultural tem sofrido alguns abanões. Como numa complicada jogada de xadrez, o Poder decidiu, e muito bem à primeira vista, verificar o que é que estava a pagar. Correcto. A questão é o modo como se avalia o valor de uma fundação.  As águas começaram a agitar-se com a surpresa de se pretender fechar a Fundação Paula Rego, o que indignou muita gente, até porque essa até era das fundações conhecidas no mundo da cultura. 
Num mundo informatizado, e uma vez que há para aí centenas de Fundações, o grupo de estudo decidiu enviar um formulário igual para todas que teria de ser preenchido com cruzinhas e números para ser tudo bem uniforme. Pode parecer justo, se imaginassem mais de uma categoria. Assim leva a situações bem divertidas como a nossa já referida Fundação Gulbenkian ou Serralves, ficarem em pé de igualdade com Fundação Caixa Agrícola de Leiria (??!!) ou Fundação Social-Democrata da Madeira (para que é que serve?) e o caso da Fundação do Côa, avaliada e chumbada pelo seu trabalho antes de ter nascido... 
Curiosidade minha: quais serão as 86 «fundações» que estavam à frente da Gulbenkian na 1ª avaliação? (ou na 2ª avaliação, com 56 ainda à sua frente)  E à frente de Serralves? Ex-equo com a Gulbenkian está uma «fundação» chamada PMLJ, de uma sociedade de advogados para gerir a sua colecção de arte. Interessante. Que bom para eles.
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Imagino que com este barulho as coisas tomem outro rumo. Se consiga peneirar e separar o trigo do joio, os oportunistas que inventaram «fundações» como uma manobra em relação ao fisco, e as actividades de interesse público. 
Pena é que fosse necessário este barulho na comunicação social.



Pé-de-cereja


domingo, 5 de agosto de 2012

Jogos Olímpicos



Passou a ser a MINHA atleta. 
Os Jogos Olímpicos começaram por ser um sonho romântico. E eu, antes de cair na realidade, ainda os sinto um pouco assim. Ainda ontem, ao contar o que é a Maratona ao meu filho (a cultura geral de hoje não é melhor nem pior do que no meu tempo, mas é bem diferente) e que Filípides conseguiu gritar «Vencemos!» antes de cair morto de exaustão ao correr 40 quilómetros, sentia-me tão comovida como se relatasse algo que me dizia respeito. Que disparate! Até me ri depois…
É claro que essa coisa do "mais alto, mais forte, mais longe" é brutalmente competitivo. E é muito bonito quando o mais se refere a nós mesmos, aos nossos recordes pessoais, mas mais difícil quando - o que é sempre - é 'mais' do que os nossos adversários. E aparecem muitos interesses, já não tão românticos e altruístas como a corrida de Filípides. A alta competição é para profissionais, pessoas cuja vida é treinar-se para aqueles momentos, portanto não é de estranhar que sejam os grandes países a ganhar. Por um lado têm mais cidadãos, e por outro melhores condições para os treinar. Normal.
Mas a Clarisse Cruz...!!!
Quando a vi cair, dei um grito. Ai! E disse em voz alta "Bolas!!! Que pena...Coitadinha." considerando eu que a corrida tinha acabado. E depois arregalei os olhos quando a vi levantar-se, e desatar a correr ainda mais. Com o joelho esfolado, aquela maravilhosa mulher, acelera, recupera o atraso, chega à meta, e ainda consegue um 4º lugar  5º lugar. Só não conseguiu o 4º pela ultrapassagem, já mesmo na final, pela concorrente espanhola.
Grande atleta. 
Grande mulher!



Pé-de-Cereja